sexta-feira, 13 de julho de 2012
Atavismo
Amo-te meu pai!
Tu me ensinou a andar de bicicleta.
Ensinou-me dirigir.
Arrebentou meu prepúcio.
Viajamos juntos pela madrugada.
Atravessei um rio nas tuas costas.
Me deu uma surra quando arrebentei seu carro.
Comprou sapato pra eu sair aos sábados.
Papai me emprestou o carro quando eu tinha apenas 14 anos.
Cara, transei no banco traseiro da sua Belina 71.
Ele arrancou meu dente, amarrado na porta.
Chorou ao meu lado por amor a minha mãe.
Ajoelhou e o vi agradecer a Deus, escapei, de um grave acidente.
Bebemos pinga com caju a moda dos índios do Paracatu.
No terreno selvagem ele disse: "terás um refúgio".
Fotografei com sua lente 35 mm.
Dizia a seus amigos : "esse é meu filho."
Reconheci o homem quando pediu ajuda, estava doente.
Me salvou do Umbral dizendo:"filho, carregue sua dor".
Porque ele me levou em seus braços quando eu ainda era criança?
Ler todos os meus livros e compreender minha real loucura.
Lutou putamente nessa porra de país,pra que eu estudasse.
Me deixe curar seu porre, isso vai ser divertido.
Ele me levou pra caminhar ao pôr do sol quando já havia me cansado da tua luz.
Porque ele segurou minha mão quando não havia mais nada por perto?
Porque ele me fez rir das idas e vindas da existência?
Me contou que a queda te deixa mais livre que a ascenção!
Então me disse: - "Não chore, esse não é seu último amor".
É, ele me mostrou que um verdadeiro homem sabe viver com muito pouco.
Então me disse, que caminhar sem pestanejar, é afogar as decepções.
Porque ele deixou que eu o visse fraco e desamparado?
Porque ele me emprestou sua melhor camisa?
Você mais que tudo, foi tudo aquilo que eu não imaginava que seria!
Pai, meu bandido, meu héroi, meu inimigo, sangue coagido!
Saiba que da tua coluna eu refarei minhas entranhas, para que renasça meu coração. Nunca, nunca te deixarei, quando eu estiver numa esquina ou numa contra-mão, serás minha direção.
Pai, me faz lembrar que aqui neste mundo nada é capaz de superar tua divina luz!
Tú, meu Jesus, Buda, Krisna, Jeová, em Minas ou no Cazaquistão, tu me faz brilhar, e me liberta da confusão. E se quilômetros percorri pra nada encontrar, então é porque em sua morada quero estar. E desfrutar da recompensa que é te amar. Que seus braços façam a ponte quando desta vida eu me lançar. Que tudo isso aqui seja apenas uma vaga lembrança de uma tentativa vã do que chamam vida.
Pois tú és o pai de todos nós: canalhas , vagabundos, heróis, bandidos, assassinos, padres, médicos, açogueiros, vendedores, e tantos outros, outras... e no fim somos todos filhos teus , filhos de tua verdadeira lida!!
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